Gonzaga já vestiu políticos, empresários e a “nata” da sociedade itajaiense
Aos 87 anos, quase 78 deles vividos em Itajaí, o alfaiate Luiz Gonzaga da Rosa vestiu, a partir dos anos 1960, a grande maioria dos prefeitos de Itajaí, ex-governadores, ex-deputados, reitores, empresários e profissionais liberais da elite itajaiense. E continua trabalhando com energia e dedicação invejáveis.
Casado há 66 anos, Gonzaga tem quatro filhos, cinco netos e cinco bisnetos, mas separa muito bem as funções de marido, pai, avô, bisavô e alfaiate. Disciplinado, tem um tempo diário para se refugiar no ateliê e dar conta de suas encomendas. E aposentadoria não passa pela sua cabeça.
No pequena alfaiataria, instalada em sua casa na rua Juvenal Garcia, ele mantém as pesadas tesouras importadas que o acompanham durante a vida e um estoque de tecidos de dar inveja a qualquer pessoa de bom gosto: cortes de casimira inglesa, linho irlandês, tweeds importados e tecidos nobres da alfaiataria, que hoje em dia poucos conhecem. Bom gosto e apurado senso estético são duas virtudes que o acompanham desde que confeccionou o primeiro terno.
E mesmo com o passar dos anos e a evolução da moda, que ganhou um ar mais displicente, cores menos tradicionais e modelagem mais despojada, ele se mantém fiel à alta alfaiataria. “As cores mais tradicionais são os tons de cinza, do cinza clarinho até o grafite; o preto e o azul-marinho. Mas ultimamente já fiz ternos rosa, bordô, verde musgo, entre outras cores pouco convencionais”, confidencia.
Apogeu e a concorrência chinesa
“Meu pai faleceu quando eu tinha oito anos. Completei o ginásio, não quis estudar mais e fui trabalhar com um antigo alfaiate. Mas aprendi mesmo o ofício com o Silva Neto, que foi um dos mais tradicionais alfaiates que Itajaí já teve”, lembra Gonzaga.
Com o fim da alfaiataria de Silva Neto, ele montou um pequeno ateliê junto com um colega e acabou com a sociedade para trabalhar na Petrobras, no Rio de Janeiro. Mas a experiência na capital carioca pouco. Com saudades de Itajaí, do filho recém-nascido e da profissão, voltou para a cidade e montou sua própria alfaiataria. O negócio cresceu e Gonzaga investiu em pontos mais centrais e maiores, pois tinha vários auxiliares nessa época.
Só que a facilitação das importações brasileiras pelo governo Collor no início da década de 1990 - e a consequente entrada das confecções chinesas - impactou a atividade dos alfaiates, assim como outros setores da indústria têxtil. “Um terno fabricado na China era vendido por menos do que cobrávamos apenas pela mão de obra e isso acabou com a profissão do alfaiate. Muito poucos sobreviveram e acho que sou o único na região”, diz.
Gonzaga teve um AVC há pouco tempo e pegou covid, mas se recuperou totalmente. E para ele não há fórmula e nem receita para chegar a sua idade com tanta energia. “Isso está nas mãos de Deus”. Gonzaga continua fazendo seus ternos sob medida. Ele confecciona sozinho dois ternos por mês e ainda trabalha com reformas de trajes.
Um detalhe curioso na vida do alfaiate é que ele nasceu no interior de São Joaquim, veio para Itajaí ainda criança, mas é um cidadão de Ilhota. Isso porque ele perdeu toda a documentação e, para ajudá-lo, um amigo e cliente que era cartorário na cidade refez os documentos, mas como se ele tivesse nascido em Ilhota.
Fotos: Joca Baggio