Aos 83 anos, mais de 50 vividos em Itajaí, ela conquistou participação definitiva na cena musical itajaiense
Natural da cidade gaúcha de Cruz Alta, ela foi criada junto à família do imortal Érico Veríssimo, dividiu palco com Elis Regina e teve o ator Amácio Mazzaropi como fã incondicional no circo. Mas escolheu Itajaí para chamar de sua cidade.
Terezinha Peres, a “Nega Tereza”, como faz questão de ser chamada, foi a primeira sambista itajaiense, musicista multi-instrumentista autodidata, cantora e mestre de bateria. Mas acima de tudo, foi e ainda é um ser humano incrível, com um coração maior que ela.
Em Itajaí a Nega Tereza criou o Clube do Mickey e ensinou música gratuitamente para crianças em situação de vulnerabilidade social com um único objetivo: evitar que a garotada caísse na marginalidade. E acabou conseguindo mais que isso, pois muitos nomes da cena municipal do estado surgiram a partir de seus ensinamentos. Solteira, ela ajudou a criar mais de 30 sobrinhos e sobrinhos-netos, filhos adotivos, além de ter sido por muitos anos o suporte financeiro da família.
Mas antes de chegar a Itajaí, no início da década de 1970, ela passou por poucas e boas. Nega Tereza veio de uma família de músicos e iniciou a carreira aos 13 anos. Ela teve um empurrãozinho de Ênio Veríssimo, irmão de Érico, que a levou para um festival em um cinema, no qual ela tirou o primeiro lugar. Tudo isso, é claro, escondido de sua mãe, que ficou sabendo da vitória pelo rádio.
“Nessa época eu já tocava diversos instrumentos de ouvido, porque meus pais saíam para trabalhar e eu e meu irmão tirávamos o material da banda do sótão e passávamos o dia ensaiando. Quando meu pai descobriu me fez tocar uma tarde inteira, até eu não aguentar mais as mãos e as pernas”, conta, aos risos. E daí, até ela integrar o conjunto musical da família, foi um pulinho.
Além de tocar bateria, sax, acordeon, entre outros instrumentos de sopro e percussão, Nega Tereza também passou a cantar em festivais, programas de rádio, com orquestras, bandas de bailes, além de participar de programas na extinta TV Farroupilha, de Porto Alegre.
Ela ainda animou casamentos, eventos sociais e integrou uma trupe circense, junto com outros integrantes da família. Aliás, levá-los com ela foi a condição para ingressar na arte circense. Era do rufar de sua bateria que saía o som que dava o suspense à apresentação de trapezistas, malabaristas e equilibristas.
Chegou com trupe de circo
Desde muito cedo ela tinha vontade de morar em Santa Catarina. “Quando passava uma crioula pela calçada na minha terra eu dizia: Olha a pose da nega, parece que veio de Santa Catarina. Um dia vou pra lá. E vim cair em Itajaí, menino”, conta às longas gargalhadas. Aliás, o bom humor é uma das suas características.
O circo no qual a família atuava passava constantemente por Itajaí e ficava instalado nas proximidades do porto, onde hoje é o terminal da Braskarne. Já com certa idade, seus pais e tios optaram por abandonar a trupe. A decisão foi tomada na praça dos cachorros, no início da rua Tijucas. Apenas Nega Tereza continuou, mais por necessidade de ajudar financeiramente a família que ficou em Itajaí, do que por amor ao ofício.
Até que ela resolveu se instalar também na cidade. No início foi tudo difícil. Ela precisou cozinhar e vender marmitas para os motoristas de caminhão que aguardavam para entrar no porto e vender “pirulitos de circo” na praça da Matriz nos finais de semana, até que seu talento para a música foi reconhecido. “Daí passei a tocar em bailes, casamentos, festas. Tudo mudou”, lembra.
O reconhecimento veio através de suas realizações pessoais, conquistas na música, no ensino às crianças do Beco do Mickey e posteriormente pelo sucesso da escola de samba Clube do Mickey, que ela fundou e foi mestre de bateria, figurinista e de tudo mais um pouco. Nega Tereza também ganhou documentários, enredo de escola de samba e reportagens que enalteceram seu trabalho, a amizade e a gratidão dos muitos que ela colocou na música.
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